Entre os dias 01 e 04 de julho de 2025, ocorreu na USP o VI Congresso Internacional da ABES (Associação Brasileira de Estudos Semióticos), com participação do MediaAção. O grupo esteve à frente do Simpósio sobre Semiótica da Desinformação, coordenado pelos pesquisadores Conrado Mendes (PUC-Minas) e Daniel Melo Ribeiro (UFMT). Além da apresentação das pesquisas dos próprios coordenadores, o simpósio contou com a apresentação de trabalhos, de pesquisadores e pesquisadoras da USP, UNIP e UFRJ. Destacamos a apresentação do trabalho “Conceitos do pragmatismo e da semiótica de Charles Peirce aplicados à desinformação”, que é parte da pesquisa coletiva da Rede SIMM “Por uma abordagem comunicacional da desinformação: desafios teóricos e metodológicos”, que conta com apoio da Fapemig.

 

Conceitos do pragmatismo e da semiótica de Charles Peirce aplicados à desinformação

Daniel Melo Ribeiro

O objetivo deste estudo é debater como os conceitos da Semiótica e do Pragmatismo de Charles Peirce podem ser acionados para compreender o fenômeno da desinformação. Partimos do pressuposto de que a desinformação envolve diversos tipos de signos que não veiculam apenas conteúdos inverídicos ou mentirosos, criando um ambiente ruidoso e entrópico, favorável ao dissenso político. Sob a perspectiva da teoria dos signos, compreende-se como os signos desinformativos representam fatos e estimulam cadeias de interpretações. Por um lado, a desinformação distorce a relação indexical entre o signo e seu objeto dinâmico, pervertendo o vínculo factual. Por outro, são estimulados interpretantes emocionais (sentimentos), energéticos (ação, conduta) e lógicos (agradáveis à razão). Sob o ponto de vista do pragmatismo, a compreensão do conceito de desinformação requer a observação de seus efeitos práticos no mundo com ênfase na crença, e não no estatuto da verdade. Para isso, podem ser recuperados os métodos de fixação de crenças, sobretudo os métodos da tenacidade, da autoridade e a priori, que, em contraste com o método científico, reforçam a manutenção da ignorância. Já as reflexões de Peirce sobre o conceito de informação sublinham a ideia de que a desinformação não amplia o horizonte de conhecimento do intérprete, ainda que o tema (objeto do signo) seja familiar e esteja conectado com sua experiência real. Por fim, do ponto de vista das ciências normativas, levantamos a hipótese de que a desinformação se caracteriza como uma distorção ética da informação. Assim, a informação seria o efeito de uma conduta que resulta, por um lado, de um engajamento emocional de caráter estético e, por outro lado, de uma pretensa validação lógica, desviando o curso da semiose.

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